Sobre o projeto

Hay menos tiempo que lugar / no obstante

Hay lugares que duran un minuto

y para certo tiempo no hay lugar

Mario Benedetti

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Esse projeto surge do desejo de mapear as práticas espaciais latino-americanas no período 1960-1990, compreendendo-as a partir do conceito de horizonte provável (CAMPOS, 1969), que se dilata incorporando o passado no presente e desafiando o paradigma hegemônico e a tradição tautológica da arquitetura e do urbanismo. Propondo repensar o conceito de espaço experimental, a tese opera no entrecruzamento disciplinar tensionando os campos do conhecimento rumo a gestos emancipatórios articulados por narrativas descentradas.

Por meio da criação de um arquivo digital de uso comum, articula documentos e imagens reivindicando o território como lugar político de imaginação e memória veiculadas por agentes e dispositivos em um campo de práticas espaciais organizadas em zonas fluidas potencias. Pensado como percurso aberto de leitura e problematização das narrativas e documentos sob a perspectiva decolonial, o arquivo digital proposto oferece instrumentos críticos e amplia o campo discursivo da arquitetura e do urbanismo para pensarmos a América Latina além da referencialidade hegemônica do norte global.

Surgidas da relação íntima entre estética e política, nos contextos sócio-políticos do período, tais práticas espaciais incorporam formas simbólicas locais e potencializam estratégias e linguagens que permitem a compreensão do território sob disputas ainda hoje presentes. Articulada em dois núcleos – Grafias da Memória e Tessituras Latino-Americanas – busca-se evidenciar as contradições entre arquivo, história e memória em contextos de violência espacial e suas formas narrativas visíveis e invisíveis no âmbito dos sistemas de representação. Convidamos a revisitar pensadores, conceitos e obras produzidas no território latino-americano para uma reescrita da história – espécie de aventura especulativa e colaborativa – capaz de reconfigurar e redistribuir os conhecimentos sob outras condições epistemológicas.

Palavras-chave: arquitetura latino-americana; arquivos; cartografia crítica; memória social; banco de dados.

Breve guia de leitura

Este trabalho foi pensado como uma plataforma de pesquisa ativa e colaborativa. O objetivo inicial era desenhá-lo integralmente e reunir todo o material da pesquisa em uma única plataforma digital que permitisse visualizar imagens, conexões e texto em simultâneo. Depois de testar diferentes plataformas, programas e considerando as experimentações possíveis dentro da temporalidade que uma investigação de doutorado permite, optamos por criar uma plataforma customizável do tipo blog, contando com a colaboração de um programador para fazer o processo de tradução do arquivo pessoal – armazenado no meu computador – para um arquivo público – armazenado na internet. Existem duas potencialidades no uso dos formatos digitais: primeiro, eles possibilitam trabalhar com diferentes mídias, ampliando a dimensão textual tradicional a trabalhos acadêmicos; segundo ele pode se transformar em uma plataforma colaborativa  de pesquisa, absorvendo leitores e colaboradores. Ainda que nessa fase, o conteúdo esteja acessível apenas para visualização, o projeto tem como premissa pensar colaborativamente, ampliando o corpo de vozes em narrativas feitas por diferentes vozes. 

Infelizmente, a desenvolvimento da interface gráfica do projeto teve que ser alterado pela complexidade e tempo demandado para execução e programação. Dessa forma, o trabalho foi distribuído em duas plataformas digitais de código aberto – um banco de imagens no formato blog onde estão arquivadas as imagens e documentos relacionados às práticas espaciais, exclusivamente latino-americanas; e uma plataforma de visualização de dados na qual cada objeto conecta-se a uma rede de outros objetos, pessoas, arquivos e lugares. Embora em lugares separados, todo o conteúdo foi alimentado de forma simultânea nas duas plataformas e, ao longo do texto, as obras são identificadas na forma <IDXXX> a que se atribuiu três filtros temporais classificados por cores – CAMPO, CONTRACAMPO E EXTRACAMPO. Cada objeto cadastrado possui uma ficha com informações gerais – data, local, tipologia, categoria, acervo/arquivo pesquisado e tags de leitura – e também campos de vínculo relacionados a categorias estabelecidas para a leitura do trabalho – práticas espaciais, agentes e dispositivos. Estas três últimas aparecem também na barra superior do blog e permitem um reagrupamento por categoria específica. Os textos desenvolvidos por mim a partir da seleção de um corpo de imagens e também aqueles que possam ser escritos por outros em interação com o arquivo podem ser acessados na aba zonas fluídas potenciais. O leitor pode também consultar qualquer termo por meio e uma barra de pesquisa localizada logo abaixo do menu principal. Na sequência do texto, explica-se, com maior detalhe, como cada uma das categorias foi pensada e os modos de entrelaçamento entre elas e as imagens.

No blog, a escolha do design e tipo de interface com o usuário foi elaborado a partir de uma pesquisa por templates que simulassem uma mesa de montagem e permitissem a menor interferência possível do texto e legendas na leitura delas. Por isso, como se pode ver, ao abrir o site o leitor observará uma composição de imagens cuja identificação só é revelada quando o usuário passa o mouse sobre cada umas delas e descobre o título e a temporalidade a elas vinculada. Da mesma forma, as imagens não acompanham o texto e podem ser visualizadas clicando sobre os IDs como hiperlinks ou localizadas no arquivo-fichário de imagens que permite ao leitor deslocá-las de uma certa ordem e fazer delas novos usos. Espero que façam uma boa leitura e uso do arquivo.

A visualização de dados pode ser acessada clicando abaixo: